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BOOKER T. WASHINGTON

Quando o Friesland se afastou do caes, senti um grande allivio: foi como se me cahisse dos hombros um enorme fardo, o peso das angustias, das preoccupações, das responsabilidades. Respirei livremente depois de tantos annos de canceira. Era afinal a tranquillidade que me chegava, uma espeeie de sonho. Logo no segundo dia assaltou-me um violento desejo de dormir: recolhi-me ao excellente camarote que nos tinham reservado e mergulhei num profundo somno de quinze horas. Achava-me exgottado. No trajecto e um mez depois delle continuei esse regimen. Quinze horas de somno por dia. Era uma novidade levantar-me isento de obrigações. Ausencia de trens, horarios, entrevistas e discursos, mudança completa na vida dum sujeito que ás vezes se deitava em tres camas numa noite.

Domingo o capitão me pediu que presidisse a cerimonia religiosa. Como não sou ministro, desculpei-me. Por insistencia dos passageiros, fiz uma allocução na sala de jantar.

Não enjoei. E depois duma travessia falta de acontecimentos, desembarcámos, com tempo esplendido, na Belgica, na velha cidade de Antuerpia.

No dia seguinte assistimos a uma das festas curiosas que existem nessa terra. Das janellas do nosso quarto, abertas para uma vasta praça, viamos, na belleza do sol claro, mulheres conduzindo