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MEMORIAS DE UM NEGRO
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As platéas são de gelo. O inglez, desesperadamente grave, leva em geral tudo a serio. Aconteceu-me contar historias que teriam provocado um riso doido na minha terra — e olhavam-me tranquillamente, sem bater as pestanas.

Quando um inglez nos abre o coração e se torna amigo nosso, é um amigo sincero.

Fomos convidados, minha mulher e eu, pelo duque de Sutherland para uma soirée em Stafford House, a vivenda mais sumptuosa de Londres. A duqueza de Sutherland, a mulher mais bella da Inglaterra, desviou-se dos cuidados que lhe davam trezentos visitantes e veio falar comnosco duas vezes, exigiu que, de volta á America, lhe mandassemos noticias do instituto. Não esqueci o pedido, e no mesnio anno, pelo Natal, recebemos della uma photographia com dedicatoria. Continuámos a correspondencia, e temos actualmente na duqueza de Sutherland uma das nossas melhores amigas.

Após tres mezes de permanencia na Europa, embarcamos em Southampton para o regresso, no S. Luis. Havia a bordo uma esplendida bibliotheca offerecida pelos cidadãos de S. Luis, no Missouri. Entre os livros achei uma biographia de Frederico Douglas, obra curiosa, sobretudo na parte referente á viagem que o grande negro fez á Inglaterra. Não lhe permittiram entrar no salão: durante a travessia Douglas se conservou no convez.